E a história lembra José do Patrocínio, jornalista e líder abolicionista

Brasília, 31/1/07 – O último dia do mês de janeiro tem um significado importante para a história afro-brasileira. Nesta data, 31 de janeiro, morria o jornalista e ativista da causa abolicionista José do Patrocínio. Filho de um padre com uma escrava que vendia frutas, José do Patrocínio (1853 – 1905) nasceu em Campos (RJ), à época um dos pólos escravagistas do país. Mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a vida como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio. Pagando o próprio estudo, formou-se em farmácia. Em 1875, porém, descobriu a verdadeira vocação ao um jornal satírico chamado “Os Ferrões” .Começava ali a carreira de um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros de todos os tempos. Dono de um texto requintado e viril, José do Patrocínio – que de início assinava Proudhon — se tornou um articulista famoso em todo o país. Conheceu a princesa Isabel, fundou seu diário, a “Gazeta da Tarde” virou o “Tigre do Abolicionismo”. Em maio de 1883, criou, junto com André Rebouças, uma confederação unindo todos os clubes abolicionistas do país. A revolução se iniciara. “E a revolução se chama Patrocínio”, diria Joaquim Nabuco.

 

Pouco depois de a princesa Isa­bel assinar a Lei Áurea, sob uma chuva de rosas no paço da cidade, a campanha que, por dez anos, Patrocínio liderara enfim parecia encerrada. “Minha alma sobe de joelhos nestes paços”, diria ele, curvando-se para beijar as mãos da “loira mãe dos brasileiros”. Aos 35 anos in­completos, era difícil supor que, a partir dali, Patrocínio veria sua carreira ir ladeira abaixo. Mas foi o que aconteceu: seu novo jornal, “A Cidade do Rio” (fundando em 1887), virou porta-voz da monarquia – em tempos republicanos. Patrocínio foi acusado de estimular a formação da “Guarda Negra”, um bando de escravos libertos que agiam com violência nos comícios republicanos. Era um “isabelista”.

 

Em 1889, José do Patrocínio aderira ao Movimento Republicano: tarde demais para agradar aos adeptos do novo regime, mas ainda em tempo para ser abandonado pelos ex-aliados. Em 1832, depois de atacar o ditador de plantão, marechal Floriano, Patrocínio foi exilado na Amazônia. Rui Barbosa o defendeu, num texto vigoroso. “Que sociedade é essa, cuja consciência moral mergulha em lama, ao menor capricho da força, as estrelas de sua admiração?” Em 93, Patrocínio voltou ao Rio, mas, como continuou o “Marechal de Ferro”, seu jornal foi fechado. A miséria bateu-lhe à porta e Patrocínio mudou-se para um barracão no subúrbio. Por anos, dedicou-se a um projeto delirante: construir um dirigível de 45 metros de comprimento. A nave jamais se ergueria do chão.

De |janeiro 31st, 2007|Notícia|Comentários desativados em E a história lembra José do Patrocínio, jornalista e líder abolicionista