Lider dos Amaros, seu Benedito morre aos 66 anos

Brasília, 10/4/07 – Os quilombolas da Comunidade da Família dos Amaros estão mais tristes. Morreu nesta segunda-feira (9), Benedito Coelho Guimarães. Seu Benedito como era carinhosamente conhecido, tinha 66 anos e foi encontrado morto na Fazenda Pituba, local original das terras dos quilombolas. O corpo de Benedito está sendo velado e será sepultado na tarde desta terça (10) em Paracatu.

 

Importante liderança quilombola, Benedito foi responsável pelo resgate e valorização das tradições da comunidade. Entre elas, Benedito era o sanfoneiro e mestre da Caretada. Hoje o festejo é conhecido nacional e internacionalmente, pela música e pela dança. Benedito também esteve a frente da luta dos Amaro pela retomada de suas terras, luta esta que já se arrasta há anos na Justiça. O quilombola também era bastante conhecido por sua alegria, disposição e pelas produções artesanais. Por meio de desenhos e pela produção de paredes decoradas, como as que fez em sua casa, Benedito sempre ressaltou nas suas obras o amor à liberdade e a natureza.

 

Quem são os Amaros

 

A Comunidade dos Amaros localiza-se no município de Paracatu, noroeste de Minas Gerais. O seu território histórico tradicional fica próximo ao quilômetro 12 da rodovia MG 188. A rodovia liga a cidade de Paracatu até a cidade de Unaí. Nas margens do território histórico há um vilarejo denominado Comunidade da Lagoa de Santo Antônio. Atualmente apenas uma família quilombola reside no local. O restante dos descendentes da família dos Amaros reside no bairro de Paracatuzinho, na periferia de Paracatu.

 

Atualmente são cerca de 400 pessoas, constituídos em aproximadamente 10 famílias, quilombolas da Fazenda dos Amaros. As famílias quilombolas foram expulsas ao longo do tempo da área, que originalmente se chamava Fazenda Pituba. Os quilombolas tentaram na Justiça, no fim dos anos 90, a reintegração da posse, mas o juiz da comarca de Paracatu, Alexandre Magno do Vale, extinguiu a ação alegando que o documento, um inventário do século XIX que comprovava que a propriedade pertencia a eles, era inelegível.

No mês de agosto de 2003, um documento do século retrasado renovou a esperança da devolução de 732 hectares do território dos Amaros. Segundo o morador, Benedito, o total de terras é de 1083 hectares. Os quilombolas fizeram uma retomada das terras. No dia da ocupação do terreno, a comunidade dos Amaros festejou com um rito religioso chamado Caretada. A Caretada é uma típica expressão dos afrobrasileiros do noroeste mineiro. Apenas os homens participam. Durante a Caretada os homens transvestem de máscaras e roupas coloridas e saem cantando e dançando pelas ruas da comunidade e da cidade.


A população de Paracatu, em Minas Gerais, acompanha de perto uma briga por terras que começou há 148 anos. A comunidade dos Amaros, uma família de descendentes de escravos, quer retomar a terra que no início do século XIX pertenceu ao tataravô deles, Álvaro Pereira das Mercês. Cerca de 35 pessoas ocuparam um pedaço dos 732 hectares que podem ter sido um engenho. O objetivo do grupo é montar uma espécie de quilombo contemporâneo. “É um quilombo de resistência cultural, e não armada, como antes da abolição da escravatura“, explica o historiador e arquivista Alexandre Alves Dias.

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