Rio de Janeiro é a primeira cidade do mundo a receber o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural
Por Denise Porfírio
As belezas naturais e integração do homem com sua paisagem fizeram do Rio de Janeiro a primeira cidade do mundo a receber o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), neste domingo 1º de julho.
A candidatura da cidade maravilhosa foi apresentada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O reconhecimento do Rio representa um novo olhar sobre os bens culturais inscritos na Lista do Patrimônio Mundial.
A partir de agora, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Jardim Botânico e a praia de Copacabana, além da entrada da Baía de Guanabara serão alvo de ações integradas visando a sua preservação como paisagem cultural. Os bens da capital carioca reconhecidos pela Unesco incluem ainda o forte e o morro do Leme, o Forte de Copacabana, o Arpoador, o Parque do Flamengo e a enseada de Botafogo.
A presidenta Dilma Rousseff afirmou que a decisão da Unesco é “motivo de orgulho para todo o Brasil”. Em comunicado, ela ressaltou a importância do reconhecimento da cidade que vive um momento de mudança: “Um estímulo para que o Rio prossiga sua trajetória de revitalização e crescimento”.
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, acompanhou o trabalho e comemorou a decisão que resultou na inclusão de mais um bem brasileiro na Lista de Patrimônio Mundial. Para a ministra, o resultado vem “coroar um belíssimo trabalho que evidencia a cidade hoje mundialmente conhecida por sua beleza e excepcionalidade”, ressalta.
Eloi Ferreira de Araujo, presidente da FCP, acredita que o título é um estímulo para que a cidade, conhecida como a mais bela do mundo, continue com o sentido de ser também a mais acolhedora, abraçando a diversidade de negros, indígenas, brancos e ciganos. “Enfim, todos os elementos formadores da nossa identidade nacional.”
Circuito histórico da herança africana – O patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro também será preservado por meio de uma rota que guarda vestígios arquitetônicos e arqueológicos das comunidades de escravos trazidos da África. O roteiro possui locais de visitação com informações para estudantes, moradores, estudiosos e turistas.
Em 16 de novembro de 2011 foi criado, por meio do Decreto nº 34.803, de 29 de novembro, o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que compreende o Cais do Valongo e da Imperatriz, os Jardins do Valongo, a Pedra do Sal, o Largo do Depósito, o Cemitério dos Pretos Novos (no Instituto Pretos Novos) e o Centro Cultural José Bonifácio.
O circuito é um conjunto de locais marcantes para a memória da cultura afro-brasileira que será transformado em áreas de visitação com informações para estudantes, moradores, estudiosos e turistas.
Pontos de destaque do Circuito:
Cais do Valongo – Maior porto de chegada de escravos do mundo, o Cais de Valongo, onde desembarcaram mais de um milhão de pessoas. A antiga estrutura portuária surgiu com as escavações para revitalizar o local, logo abaixo do Cais da Imperatriz. Foram encontrados no local, objetos utilizados pelos escravos no século XIX, tais como, botões produzidos a partir de ossos bovinos, cachimbo de cerâmica e búzios utilizados em atividades religiosas. Em 4 de setembro de 1843, desembarcou no Rio de Janeiro a princesa da casa reinante de Nápoles, Thereza Cristina de Bourbon, para se casar com Dom Pedro II. Para a chegada da futura imperatriz, o imperador ordenou as obras de embelezamento e melhoramento do Cais do Valongo, que ganhou um pavilhão de luxo e passou a se chamar de Cais da Imperatriz.
Pedra do Sal – No local, o sal era descarregado por africanos escravizados que trabalhavam como carregadores nos cais de atracação e trapiches. Nos degraus escavados na rocha foram fundados os primeiros ranchos carnavalescos, afoxés e pontos ritualísticos na segunda metade do século x i x. Após o trabalho, sambistas estivadores se reuniam para as rodas de samba nas casas das tias baianas.
Jardim do Valongo – A construção do Jardim Suspenso do Valongo foi parte do plano de remodelação e embelezamento da cidade pelo prefeito Pereira Passos, projetado pelo arquiteto Luis Rey, inaugurado em 1906. Ali foram acolhidas quatro estátuas de mármore carrara – Marte, Ceres, Vênus e Juno – retiradas do Cais da Imperatriz. Hoje, elas estão no Palácio da Cidade, em Botafogo.
Largo do Depósito – Por volta de 1770, o Marques de Lavradio transferiu o mercado de escravos da Praça XV para a região do Valongo. O Largo do Depósito, hoje Praça dos Estivadores, era onde se concentravam os armazéns dos “negociantes de grosso trato” que controlavam o mercado negreiro. Em 1831, foi extinto o depósito de escravos na rua do Valongo.
Instituto Pretos Novos – A transferência do mercado de escravos da Praça XV para o Valongo implicou a mudança do Cemitério dos Pretos Novos do Largo de Santa Rita para o Caminho da Gamboa – hoje, a Rua Pedro Ernesto, 36, onde funciona o Instituto Pretos Novos. O sítio arqueológico foi descoberto em 1996, quando moradores faziam sondagem de solo para obras. Arqueólogos da prefeitura coletaram vários tipos de vestígios e milhares de fragmentos de ossos humanos misturados.