Personalidades Negras – João da Baiana
O samba é, ainda hoje, uma das principais expressões da cultura brasileira. Embora sua vertente mais popular tenha se formado no Rio de Janeiro, ela se deu sob forte influência baiana, mais precisamente das chamadas Tias Baianas, que instalaram-se no bairro de Cidade Nova, na zona central da capital fluminense. Eram em suas casas que se davam as festas e os batuques que se tornaram os pilares do samba. Entre as Tias Baianas estava Tia Prisciliana, mãe de um dos criadores do samba urbano carioca, João Machado Guedes, o João da Baiana.
João da Baiana nasceu em 17 de maio de 1887. Caçula de uma família de doze irmãos, era o único a ter nascido no Rio de Janeiro. Cresceu na rua Senador Pompeu, tendo como vizinhos Donga e Heitor dos Prazeres, também precursores do samba, próximo à Praça Onze, coração daquilo que Heitor chamou de Pequena África.
Entre oito e dez anos, João da Baiana já integrava algumas das primeiras agremiações carnavalescas, chamadas de rancho, como porta-machado (figurante que abria os desfiles), no Rancho Dois de Ouro e no Rancho da Pedra do Sal. Nessa função já empunhava o pandeiro, instrumento introduzido no samba por ele próprio, o qual aprendeu a tocar com sua mãe, Tia Prisciliana.
Apesar de viver cercado pelos sons dos batuques e do candomblé, e de ser, desde pequeno, instrumentista/ ritmista, João da Baiana nunca pôde se dedicar plenamente à música. Aos 12 anos, trabalhou como ajudante de cocheiro de Hermes da Fonseca, futuro presidente do país. Trabalhou também em circo, foi auxiliar de carpinteiro, até que, aos vinte anos, vai trabalhar como estivador e, em pouco tempo, passa a ser fiscal da Marinha, profissão que exerceu até se aposentar, aos 62 anos. Logo após assumir o posto de fiscal, vê-se obrigado a recursar o convite para acompanhar o grupo Pixinguinha e os Oito Batutas, com receio de perder o emprego recém-conquistado.
A partir de 1923, começa a compor e a gravar em programas de rádio. Sua primeira composição foi Pelo Amor da Mulata, seguindo-se de Mulher Cruel, em parceria com Donga e Pixinguinha, e ainda Pedindo Vingança e O Futuro é uma Caveira. Em 1928, quando já era ritmista famoso não só pelo pandeiro, mas também por transformar faca e prato em instrumentos percussivos, ao raspar o primeiro no segundo (técnica aprendida com as Tias Baianas), o que reforçava a marcação e a cadência do samba, João da Baiana grava Cabide de Molambo, música que alcança grande sucesso.
Participou de alguns dos primeiros grupos profissionais de samba, como o Conjunto dos Moles, Grupo do Louro, Diabos do Céu e Grupo da Guarda Velha. Nesse mesmo período, compõe Batuque na Cozinha, sua música mais conhecida, que alcançou o grande público após ser gravada por Martinho da Vila, na década de 1970.
Em 1938, gravou um conjunto de macumbas, das quais se destacam Sereia e Folha por folha. Dois anos depois, é escolhido entre os mais representativos artistas nacionais pelo maestro Heitor Villa-Lobos para participar das gravações, a bordo do navio Uruguai, do disco Native Brazilian Music, do também maestro Leopold Stokowski, com sua música Quê, quê, rê, quê, quê. Além de João da Baiana também participaram Cartola, Pixinguinha, Donga e Zé Espinguela.
Na década de 1950, voltou a se apresentar e gravar com o grupo Guarda Velha, a convite do cantor e radialista, Almirante. Em 1952, lançou Lamento de Inhançã e Lamento de Xangô, de sua autoria, e por quatro anos consecutivos gravou a série João da Baiana no seu terreiro, interpretando pontos de macumba que ele mesmo compôs.
Em 1968, sob produção de Hermínio Bello de Carvalho, é lançado o LP Gente da antiga, formado por Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Baiana. No mesmo ano, Clementina defendeu na Bienal do Samba da TV Record a música Quando a polícia chegar, composta por João.
Como precursor do samba, João da Baiana desempenhou papel fundamental na estruturação do ritmo de maior representatividade nacional, tendo, ainda que de modo insuficiente, recebido certo reconhecimento por esse magnífico feito. Contudo, por ter sido pioneiro e baluarte de uma expressão cultural afro-brasileira, na virada do século XIX para o século XX, num país com fortíssima influência da cultura escravagista, sofreu, assim como outras personagens centrais dessa história, com a estigmatização social e a perseguição policial. João teve seu pandeiro apreendido e chegou ele próprio a ser preso por fazer samba.
Nada disso impediu a expressão de sua criatividade e talento. João da Baiana, que era cantor, compositor e ritmista, não se limitou à música, dedicando-se também à pintura, por meio da qual retratou cenas do carnaval e paisagens da cidade maravilhosa.
No fim da vida, retirou-se para a Casa dos Artistas, no bairro de Jacarepaguá, falecendo em 1974, aos 87 anos.
Fontes:
http://zedobelo.com.br/joao-da-baiana/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_da_Baiana
http://www.dicionariompb.com.br/joao-da-bahiana/dados-artisticos
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/critica-musical
http://www.letras.com.br/#!biografia/joao-da-baiana