Biografia de Mahommah G. Baquaqua será publicada neste semestre
“Imagino que, em toda a criação,haja apenas um lugar mais horrível
do que o porão de um navio negreiro,
e esse lugar é aquele onde os donos de escravos e seus lacaios
muito provavelmente se encontrarão algum dia.”
M. G. Baquaqua
Após mais de 160 anos da sua publicação original, em inglês, de An Interesting Narrative: Biography of Mahommah G. Baquaqua, a população brasileira está prestes a ter acesso à edição nacional do único registro em primeira pessoa, que se tem notícia, sobre a trajetória de um africano escravizado em nossas terras.
Dando continuidade ao trabalho de tradução iniciado pela pesquisadora Silvia Hunold Lara, da Universidade de Campinas, ainda em 1988, os historiadores brasileiros Bruno Véras e Nielson Bezerra, com apoio do Ministério da Cultura e do governo do Canadá, e sob a orientação do pesquisador canadense Paul Lovejoy, responsável pelo relançamento recente da biografia em inglês, anunciam que a versão brasileira será publicada ainda no primeiro semestre de 2016, pela Editora Civilização Brasileira.
De origem mulçumana e vindo Benin, Mahommah Gardo Baquaqua foi trazido ao Brasil, em 1845, poucos anos antes da promulgação da Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibiu o tráfico negreiro. Foi escravizado, inicialmente, em Pernambuco, mas após uma tentativa frustrada de suicídio, razão pela qual foi brutalmente violentado. Novamente vendido a um traficante de escravos, foi mandado para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar com o transporte de café. Num dos deslocamentos feitos a bordo do navio Esperança, aportou em Nova Iorque e lá conseguiu fugir.
Partiu para o Haiti, converteu-se ao cristianismo e retornou, em 1850, aos Estados Unidos. Aprendeu inglês o suficiente para ler e escrever cartas, quando, em 1854, publicou sua autobiografia em Detroit com a ajuda do editor Samuel Moore. Após a publicação, foi para o Canadá e a Inglaterra.
Embora, o último registro de sua passagem tenha se dado no porto de Liverpool, Véras suspeita que ele tenha ainda retornada para a África, mais precisamente para Lagos, Nigéria.
Além da publicação da edição brasileira dos relatos de Baquaqua, a dupla de historiadores lançou o Projeto Baquaqua, sítio eletrônico voltado para os/as estudantes do ensino fundamental e médio, onde eles/as poderão acessar um livro ilustrado de atividades, com o objetivo de, por meio dessa referência histórica, erguer a autoestima dos/as estudantes negros/as.