Nascia, há 177 anos, o maior escritor brasileiro: Machado de Assis
Em 21 de junho de 1839, nasceu, no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis, até hoje celebrado como o principal nome da literatura brasileira e um dos maiores escritores da língua portuguesa.
Machado de Assis era de uma família muito humilde. Seu pai, Francisco José de Assis, era filho de escravos alforriados e trabalhava como operário, já sua mãe tinha origem portuguesa e se entregava ao ofício de lavadeira. Foi criado no Morro do Livramento e desde cedo revelou-se um aficionado pelo conhecimento. Não frequentou escola, nem universidade, foi um irremediável autodidata. Curioso e observador, buscava o saber diretamente em suas fontes, dispensando qualquer formalidade. Foi assim que aprendeu latim, estudando com o padre Silveira Sarmento, a quem ajudava nas missas, e francês com um padeiro imigrante, quando já morava no bairro de São Cristóvão, conforme contam alguns de seus biógrafos.
Quando criança, Machado teve uma saúde frágil, sofrendo de epilepsia e gagueira. Aos dez anos, tornou-se órfão de mãe. Seu pai voltou a se casar, desta vez com Maria Inês da Silva, a quem Machado ajudava na venda de doces.
Mesmo sem frequentar as salas de aula, era ávido pelos livros. Estudou como pôde e, em 1854, com 15 anos incompletos, publicou seu primeiro trabalho literário, o soneto À Ilma. Sra. D.P.J.A., no Periódico dos Pobres. Dois anos depois, começou a trabalhar na Imprensa Nacional, como aprendiz de tipógrafo, e lá conheceu Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor.
Em 1858, tornou-se revisor e colaborador da revista Marmota Fluminense e ali integrou-se à Sociedade Lítero-Humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá construiu seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.
Nos anos seguintes, continuou a exercer ofício nas redações de vários jornais, primeiro como revisor e colaborador no Correio Mercantil, depois, a convite de Quintino Bocaiúva, como redator no Diário do Rio de Janeiro. Simultaneamente, escrevia contos no Jornal da Família e fazia crítica teatral na revista O Espelho. Colaborou, ainda, com os jornais e revistas O Globo, Revista Brasileira, O Cruzeiro e A Estação. Como trabalhava assinando colunas e artigos em vários jornais, muitas de suas obras foram, inicialmente, publicadas no formato de folhetins.
Sua estreia em livro se deu como tradutor do texto Queda que as mulheres têm para os tolos, em 1861. Como autor, seu début se deu 3 anos depois, com a publicação de seu primeiro livro de poesias, Crisálidas.
Casou-se em 1869 com Carolina Augusta Xavier de Novais, com quem permaneceria por 35 anos. Foi Carolina, mulher de formação culta, que apresentou Machado aos clássicos portugueses e a vários autores de língua inglesa.
Até o início da década de 1880, dá-se aquela que é conhecida como a primeira fase da literatura machadiana. Influenciado por José de Alencar, essas primeiras obras carregam consigo características herdadas do Romantismo ou, como prefere a moderna crítica literária, do Convencionalismo. Integram esse período livros como Crisálidas (1864) e Falenas (1870), na poesia, e os romances Ressureição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
Todavia, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), ocorreu uma notória alteração em sua narrativa, que adquiriu traços de pessimismo e ironia, embora preservasse resíduos de seu romantismo original. A este trabalho seguiram-se outros, também considerados obras-primas e integrantes da Trilogia Realista: Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899).
Machado de Assis, contudo, nunca foi adepto das modas vigentes em sua época. Sua originalidade permitia-o selecionar e descartar elementos de uma e outra escola literária. Assim, embora, sua segunda fase revelasse um escritor, ao mesmo tempo, mais maduro e mais pessimista, comprometido apenas com a revelação do cinismo e da hipocrisia da sociedade (marcas do Realismo), também apresenta sua intensa preocupação com o psicologismo das personagens, o que indica um deslocamento de foco – do coletivo para a mente e a alma humana.

De pé: Rodolfo Amoedo, Artur Azevedo, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, José Veríssimo, Sousa Bandeira, Filinto de Almeida, Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo Bernardelli, Rodrigo Octavio e Heitor Peixoto; sentados: João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Silva Ramos.
Machado de Assis continuava trabalhando na Revista Brasileira, quando o escritor e seu amigo José Veríssimo assumiu a direção. A redação da revista passou a ser um espaço de encontro de um grupo de intelectuais, a partir do qual Lúcio de Mendonça apresentou a ideia de se fundar uma academia literária nacional, nos moldes da Academia Francesa.
Em 28 de janeiro de 1897, após sete sessões preparatórias, a Academia Brasileira de Letras (ABL) foi instalada. Por aclamação, seus membros, entre os quais Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Olavo Bilac, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay, José do Patrocínio, Luís Murat e Rui Barbosa, escolheram Machado de Assis para presidir a instituição, à qual se devotou até o fim de sua vida.
Machado é o fundador da cadeira nº. 23 e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono. Por sua importância para a literatura brasileira, a ABL passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.
Com a morte da esposa, em 1904, o escritor entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua partida, que se deu em 1908. Nesse intervalo Machado viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Relíquias da Casa Velha (1906) e Memorial de Aires (1908). Em 1905, escreveu sua última peça, Lição de Botânica.

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.
Em 29 de setembro de 1908, na casa do bairro de Cosme Velho, Machado de Assis morreu aos 69 anos de idade. Em nome da Academia Brasileira de Letras, Rui Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre.
Mais de um século após seu falecimento, suas obras continuam a ser constantemente republicadas em diversos idiomas, tendo ocorrido a adaptação de alguns textos para o cinema e a televisão.
Além da literatura
Como ainda hoje ocorre com quem se dedica ao ofício de escritor, Machado de Assis (contista, cronista, romancista, poeta, ensaísta, dramaturgo, jornalista e crítico), que escreveu em quase todos os gêneros literários, não pôde se dedicar plenamente à literatura. Em paralelo, exerceu uma bem-sucedida carreira pública. Iniciada no ano de 1873, quando foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Também foi oficial de gabinete do mesmo órgão e, em 1899, diretor da Diretoria de Comércio desse Ministério. A carreira burocrática foi, até o fim de sua vida, seu meio principal de sobrevivência.
Fontes:
http://www.machadodeassis.org.br/
http://goo.gl/SqTei0
http://goo.gl/rZB2er
https://goo.gl/Q2uIZn
http://www.academia.org.br/academia/fundacao