Criado em 25 de julho de 1992 na República Dominicana, o Dia Internacional da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha celebra internacionalmente a luta e a resistência da mulher negra em toda a América do Sul e Caribe.

Na esteira dos passos da liderança matriarcal da diáspora africana vamos saudar toda a luta e resistência de Dona Meire do Quilombo Rio dos Macacos; o Axé e a ancestralidade da Yalorixá Juvani Nery Viana da Comunidade quilombola do Caonge; o combate ininterrupto de Claudeci contra as violências de gênero e territorial na Comunidade de Batateira; a organização comunitária protagonizada por Lucimar, Josélia e Dona Lourdes, a força da Comunidade da Graciosa.

Em todos os tempos, espaços e gerações, nós mulheres negras socializamos saberes na luta contra o racismo, o sexismo e a intolerância religiosa. O empenho na luta vai desde o momento em que colocamos água no feijão até quando vamos às ruas contra o extermínio da juventude negra. Lutamos por nós, pelos outros e pelas outras. Não vacilamos na reivindicação por políticas públicas focadas em raça, gênero e terra. Afinal, na contramão do nosso protagonismo, as assimetrias raciais direcionadas às mulheres negras persistem. A imagem serviçal vendida pela mídia só reforça os estereótipos colonialistas. A feminização da pobreza é outro exemplo disso.

E por falar em violências do conhecimento de todas e de todos, existem modalidades que o olhar de intelectuais negras como a pesquisadora do NEIM Carla Akotirene revela. Segundo a mesma, “o encarceramento de mulheres negras tornou-se a principal estratégia de regulação social do Estado brasileiro na medida em que o problema de saúde das mulheres negras com miomas, HIV/AIDS, solidão, saúde mental em decorrência do crack, esterilização compulsória passa a ser manuseado na órbita do racismo institucional, notadamente nas prisões, muitas vezes longe dos monitoramentos feministas no que diz respeito à violência contra a mulher”.

Ainda de acordo com Akotirene, o sexismo e a lesbofobia são expedientes cotidianos de pena às mulheres encarceradas, o que faz do discurso de ressocialização mero engodo do Estado e dos movimentos políticos míopes à situação prisional dessas mulheres negras.

Dos avanços, a Lei Maria da Penha é um instrumento jurídico que tem permitido a denúncia das violências de gênero no interior das relações afetivas e maritais, nos lares chefiados por mulheres, o que amplia o empoderamento das mulheres negras; a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; as políticas de ação afirmativas, como a cotização de vagas para mulheres nos partidos políticos, com vistas à paridade de gênero nos Poderes da União, Estados e Municípios, e o ingresso de mulheres nas universidades pelo sistema de cotas raciais ampliam intervenção política nos espaços deliberativos e a formação superior das mulheres negras. Destaque-se a medida que confere à mulher a propriedade da casa financiada pelo programa Minha Casa Minha Vida para o caso de divórcio ou dissolução da união estável.

Que nesse 25 de julho a nossa luta integral de 365 dias e noites sirva como memória dos projetos de vida e político traçados pelas nossas antepassadas escravizadas. Apesar das dores, das mortes, do racismo performático e institucional, as mulheres constituem o laço político mais exitoso do planeta. Até quando estamos de resguardo do corpo e espírito, outras yabás trabalham.

Somos muitas yalodès: Luiza Bairros, Matilde Ribeiro, Benedita da Silva, Luisinda Valois, Mãe Stela de Oxossi, Olívia Santana, Juliana Dias, Luciane Reis, Alane Reis, Ângela Guimarães, Maíra Azevedo, Michelle Obama, Vilma Reis, assumindo espaços intelectuais e de poderes, cargos estratégicos, inclusive no enfrentamento nas Casas Grandes. Como aprendemos com as feministas negras: “nossos passos vêm de longe”. Mais liberdade para nós. Êa, Mulheres Negras!

Nairobi Aguiar, Historiadora, Militante e Chefe da Representação Fundação Cultural Palmares Bahia/Sergipe.

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Artigo Publicado no Jornal A TARDE no dia 25/07/2012