Por Elisio Lopes Jr. – Diretor de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira da FCP/MinC
Nós não fazemos política , fazemos cultura. Como se fosse possível dissociar a força da cultura do seu vínculo visceral com a pólis, a vida das cidades, o pulsar das pessoas nos seus afazeres, nos seus costumes, com suas identidades individuais ou coletivas, suas cores ou credos. A cultura acha seu significado mais orgânico exatamente na reunião de pessoas que formam uma sociedade.
A cultura negra, ainda mais ritualística e coletiva, valeu-se, por muitos anos, desse artifício retórico para sobreviver às discriminações. Então, vamos redizer o dito: nós fazemos política, sim! Fazemos uma política cultural que objetiva chegar aos quatro cantos do País. A caminhada já começou, e começou bem, apesar da sempre infinita pequenez orçamentária diante das enormes demandas que se apresentam.
Utilizando-nos de instrumentos radicalmente democráticos de gestão, lançamos, em 2009, o Edital Ideias Criativas para o 20 de Novembro. O objetivo era premiar 15 projetos, mas recebemos mais de 600 ideias… E aí nasceu a Agenda 20, com 20 propostas apoiadas, inicialmente. A Palmares nunca havia chegado tão longe: comemoramos a data em 12 estados diferentes! O modelo estava consolidado.
Em 2010, relançamos o Ideias Criativas, com igual êxito; apoiamos o Edital Expressões Culturais Afro-brasileiras para teatro, dança e artes visuais, em parceria com a Petrobrás e a sociedade civil; e promovemos, também via editais, o intercâmbio entre projetos de cultura afro-brasileira de seis capitais brasileiras, mais o Distrito Federal, para comemorar, com pompa e circunstância, os 22 anos da Palmares.
No embalo, conquistamos três editais do Fundo Nacional de Cultura: o Juventude Negra, para a criação de Núcleos de Cultura Afro-brasileira em 10 universidades do País; o Ideias Criativas sem data estipulada, para exercitarmos os projetos não contemplados pelo 20 de Novembro; e o CDs e DVDs – O som das ruas , para finalização e lançamento de produtos musicais e audiovisuais que expressem a arte das chamadas periferias.
Conscientes da importância da qualificação para o justo acesso à verba pública, criamos o projeto Parabólica Palmares, que, em 2010, visitou 10 estados, levando informação qualificada sobre os trâmites da máquina estatal aos produtores culturais. Tudo isso articulado com um cuidadoso trabalho de ausculta à sociedade, tendo como âncoras a Pré-conferência e a Conferência Nacional de Cultura.
Enfim, fazemos, sim, política cultural. E nossa política tem cor. Ela é negra, é diversa, é matriz, e interessa não apenas ao Brasil, mas ao mundo!