IV COPENE: Arte e Literatura a favor da diversidade


Salvador, 16/9/06 – Uma das atividades mais concorridas IV Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (IV COPENE) foi à mesa que reuniu, na tarde de sexta-feira (15/9), o poeta Luis Silva Cuti (SP) e as professoras Maria Nazareth Fonseca (PUC/MG) e Maria Nazaré Mota de Lima (UNEB e Ceafro/UFBA), sob coordenação da professora Maria Anória de Jesus Oliveira (UNEB). Com o tema Arte, Literatura e Linguagem. A platéia foi conduzida a refletir sobre as produções artísticas e literárias negras, através de contos, poesia, análises iconográficas, além do rico trabalho de formação para o ensino da cultura africana realizado por pesquisadoras negras. 















Experiências positivas como as desenvolvidas pelo Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG), na qual a professora Maria Nazareth Fonseca desenvolve uma pesquisa sobre a representação identitária dos negros, em especial da mulher negra, tendo como foco de análise os poemas e contos publicados na série Cadernos Negros (QuilombHoje) e as exposições sob curadoria do artista plástico Emanoel Araújo, desde 1988 até 2004, com a Fundação do Museu Afro, em São Paulo. 















O trabalho faz um paralelo entre as obras de arte expostas e as imagens suscitadas pelos versos e textos literários. Dessas pesquisas da PUC/MG já foram gerados artigos e livros sobre Poéticas Afro-brasileiras, Antologia crítica de escritores afrodescendentes, além do CD e DVD “Tranças poéticas – imagens de negro na iconografia e na literatura”, uma poderosa ferramenta para a implementação da Lei 10.639/03.















Outro importante referencial para os docentes no ensino da História da África e da cultura afro-brasileira é o trabalho de formação de professores desenvolvido pelo Ceafro – Programa de Raça e Gênero do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, criado em 1995. 















Desde 2000, o Ceafro vem capacitando professores de todos os níveis, desde o Fundamental até o Superior, para a adoção, em sala de aula, de um conteúdo plural, que respeite a diversidade cultural brasileira e valorize a contribuição negra na formação do povo brasileiro. Essa experiência é anterior a Lei 10.639 de 2003 e possibilitou que a cidade de Salvador saísse na frente como a primeira cidade brasileira a formar seus docentes para o cumprimento do que a Lei estabelece. 















Em 2005 foi lançado o livro Escola Plural, uma organização de textos sobre essa experiência pioneira do Ceafro. Além disso, já foram produzidos materiais didáticos com a introdução do conteúdo racial em todas as disciplinas fundamentais, como matemática, biologia, química, língua portuguesa e estrangeira etc. 















“O trabalho do Ceafro é fruto de experiências anteriores do Movimento Negro, como o Projeto Pedagógico do Bloco Afro Ilê Aiyê; a Escola Comunitária Oba Biyi, atual Escola Municipal Eugenia Anna dos Santos, localizada no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e o Instituto Cultural Steve Biko, exemplos de pioneirismo na adoção de um conteúdo que dá conta da nossa diversidade étnica”, ressaltou a professora Maria Nazaré Mota, coordenadora pedagógica do Ceafro. 















Por sua vez a professora Maria Nazareth Fonseca considerou crescente a produção de materiais didáticos para o auxílio aos docentes na introdução do conteúdo étnico em sala de aula. “Graças a um acúmulo histórico, Governo e universidades que adotaram as Ações Afirmativas vêm desenvolvendo produções que dão suporte à adoção da Lei 10.639/03. É necessário se ampliar para as cidades mais distantes do interior do país e para todas as universidades, já que atualmente apenas acontece nas que possuem Ações Afirmativas”, destacou. 















Menos satisfeita, a professora Maria Nazaré Mota reclamou da insuficiente do que já foi produzido e da pouca circulação desse material entre as escolas e universidades. “Sem texto não há formação em literatura e ensino de Letras. O mesmo em outras disciplinas como História e Geografia. E não há material com o conteúdo da diversidade disponível para os professores. Há uma necessidade de revisão de todo livro didático, assim como ocorre quando há mudanças na gramática, na ortografia ou na geografia espacial”, afirmou. 















Na sua fala enfática e a favor da inclusão imediata das produções negras nas salas de aula, o poeta Cuti brindou a platéia com seus versos sempre carregados de beleza e coragem na denúncia do racismo, além de ler contos e até cantar. O público formado principalmente por professoras que buscam, em debates como esse, ferramentas para um novo modo de ensinar e estimular seus alunos para um aprendizado inclusivo e plural, se emocionou com o modo de Cuti tratar do tema racial. 

De |setembro 18th, 2006|Notícia|Comentários desativados em IV COPENE: Arte e Literatura a favor da diversidade