Debates marcam o início do 1º Encontro Nacional da Juventude Negra


Lauro de Freitas, 29/7/07 – O 1º Encontro Nacional de Juventude Negra iniciou nessa sexta (27) na cidade de Lauro de Freitas – Bahia com duas mesas de debates, uma de representantes governamentais e outra da sociedade civil. As autoridades falaram da importância do encontro para a juventude negra e a necessidade da efetivação de políticas públicas para esse segmento. Entre os presentes, a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Matilde Ribeiro, o representante do Ministério da Saúde, Antônio Alves, o secretário Municipal da Reparação de Salvador, Gilmar Santiago, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho e a vereadora da cidade de Salvador, Olívia Santana. “A importância está em revigorar o movimento negro e trazer inovações para o governo e para a sociedade civil. Esse formato de organização autônoma merece apoio para sua continuidade e para a construção da transversalidade que aponte fatores fundamentais para a juventude negra” afirmou a ministra Matilde Ribeiro.

A segunda mesa do Enjune, com o tema “Genocídio da Juventude Negra”, reuniu representantes de organizações da sociedade civil como Deise Benedito, da ONG Fala Preta (SP); Seba Vassou, do Fórum Reage Baixada (RJ); Alexandre Garnizé, do Conselho Nacional de Juventude (RJ) e o pesquisador Zapata, do Rio Grande do Sul, além de Hamilton Borges e Lio Nzumbi, ambos do Movimento Negro Unificado e da Campanha Reaja ou será mort@ (BA). “No Brasil, a identidade criminal é determinada pelos traços físicos, dividindo quem é do bem e quem é do mal. Essa imagem nociva do jovem negro, reforçada pela mídia, deve ser derrubada”, afirmou Deise Benedito, alertando para a gravidade do genocídio cotidiano de jovens negros e negras. A noite de abertura do Enjune ainda prestou uma homenagem ao Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe, comemorado no dia 25 de Julho. A Banda Aiyê,do bloco afro Ilê Aiyê encerrou a primeira noite ao som de grandes sucesso do Carnaval baiano.

Rodas de discussões

Neste sábado, 28, o 1º Encontro Nacional da Juventude Negra continuou com 14 rodas de discussão com os seguintes eixos temáticos: cultura, gênero, educação, comunicação e tecnologia, violência, meio ambiente, sexualidade, acessibilidade, religiosidade, trabalho, terra e moradia, saúde, intervenção nos espaços políticos e ações afirmativas. As discussões reunirão representantes da juventude negra brasileira, representantes da sociedade civil e instituições governamentais, entre eles Ministério da Saúde, da Justiça e as Secretarias de Direitos Humanos e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Pela manhã houve a leitura do Regulamento do ENJUNE, com a inclusão de novas contribuições trazidas pelos representantes dos 21 estados presentes. Á tarde, ocorreram concorridas Rodas de Discussão, em destaque para a de cultura, com a participação do ator e diretor teatral baiano, Ângelo Flávio. O artista discutiu o acesso às políticas culturais existentes no país, que segundo ele não contemplam a juventude negra brasileira, e sugeriu a criação de uma política cultural estruturada que fuja dos padrões e estereótipos criados pelo imaginário eurocêntrico. “O país precisa repensar e efetivar políticas sócio-culturais que resgatem e valorizem a cultura negra, negada ao longo do tempo para nós, afrodescendentes. Assim como a construção de uma plataforma única que nos permita tratar de nossas questões no contexto étnico/racial”, enfatizou Ângelo Flávio. Outro tema discutidos nas Rodas foi “gênero e feminismo”, com a participação de Ubiraci Matildes, do Fórum Nacional de Mulheres Negras (BA) e Regina Adami, representante da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres da Presidência da República, que fez uma explanação sobre a autonomia das jovens negras, discutindo pontos estratégicos para implementação de políticas públicas. Adami destacou a importância de ações que tenham como objetivo atender fatores como a descriminalização do aborto, o contraste com o mercado de trabalho, a exploração sexual e o tráfico de mulheres, que em sua maioria são jovens negras.

“As jovens negras que integraram as discussões, aqui no Enjune, estão atentas e atualizadas com os assuntos que afligem as mulheres negras, compreendendo o feminismo negro, a partir da realidade social e racial de cada estado. É importante que as mulheres jovens negras estejam discutindo com o governo sobre estas problemáticas”, reafirma Regina Adami. Os dois painéis “Novas Perspectivas na Militância Étnico/Racial” e “Juventude Negra e Diáspora Africana” concluíram mais um dia de debates e discussões do ENJUNE, com militantes negros e negras do Brasil e de países como o Uruguai e o Senegal. Uma banda de samba de roda e um grupo de Hip Hop animou os jovens durante a noite.

De |julho 29th, 2007|Notícia|Comentários desativados em Debates marcam o início do 1º Encontro Nacional da Juventude Negra